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O que faz um homem é a soma das suas obsessões.
Um homem, ou mulher, conhecem-se através dos seus erros.
Na realidade, não é de reprovar erros.
Um erro, um defeito, é algo maravilhosamente inimitável.
Desde que não seja um defeito que nos torne a vida num Inferno.
Já uma mulher se torna especialmente atraente e única, através dum pequeno
defeito aqui ou ali.
Por outro lado, o pastor que manca desde há muito tempo tem na sua perna
uma prova de vida, uma perna defeituosa que, mesmo tendo a sua origem numa
marrada dum javali ou mordidela de lobo, preferimos mergulhar na memória
de um passado que engole detalhes, mas levanta lendas de bichos.
Os erros na escrita têm, também, algo místico.
Lembro-me do dia em que escrevi «fazi» quando devia ter escrito «fiz». A
palavra correcta sempre me acompanhou, mas naquele dia o «fazi» soou-me
brilhantemente correcto, passando impune por debaixo dos olhos até ao
momento da humilhação pública.
Não é sem razão que alguém que tenha por hábito escrever tenha um medo de
morte da exposição dos seus devaneios.
«A vergonha tem bigodes», dizia um velho sábio que sabia o que dizia. E a
vergonha de um erro, de errar, é tão velha quanto os homens.
Errar é, de facto, humano.
E não há nada que mais me comova do que aquela minoria positivamente
discriminada que são os homens que nunca erraram.
Não é por acaso que ninguém atirou a pedra à prostituta naquele belo dia
de Sol desértico.
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